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Você alguma vez já se sentiu mal por ver pessoas passando necessidade?
Ficou para baixo depois de ter agido de forma egoísta?
Já se sentiu feliz por ter sido gentil com um estranho?
Você não é o primeiro, não será o último e, pode ter certeza, ainda passará por isso novamente. Aqui você vai entender o porquê de tudo isso acontecer. Acredite, isso vai elevar sua consciência e te levar para o próximo nível.
Tudo está conectado
Vivemos em um mundo globalizado, em que tudo é conectado e se autoinfluencia. Lorenz, em sua Teoria do Caos, fala que o bater de asas de uma borboleta no Brasil pode gerar um furacão no Texas; mudanças sutis no início de um evento podem levar a mudança profundas. E o que isso pode dizer sobre nossa vida? Tudo.
Como vives em sociedade, você é o reflexo de suas interações, dos ambientes que frequenta, das pessoas com quem conversa. Adquirimos padrões de comportamento que muitas vezes nem são nossos, trata-se de um mecanismo natural de adaptação. Fazemos isso para nos incluirmos nos grupos sociais, pois instintivamente entendemos que “prego que se destaca leva martelada”, ou seja, quem se diferencia acaba por ser excluído.
Conforme já estudado no artigo sobre o efeito tetris, somos criaturas que seguem padrões, eles definem quem somos, muito mais do que nossas palavras. Então como podemos nos valer deste conhecimento para termos uma vida melhor?
Primeiramente com a consciência do que é realmente essa conexão entre as coisas. Para além da teoria do caos, há outras propostas de análise do assunto. Uma delas é a da filósofa Helena Blavatsky que, estudando a filosofia tibetana, nos apresentou a heresia da separatividade.
Heresia da Separatividade
Heresia é algo que contraria um conjunto de regras. Já separatividade é algo que separa ou tem condições de promover a separação. Heresia da separatividade quer dizer que ideias que promovem a separação, isolamento ou egoísmo, vão de encontro ao que é certo.
Trata-se de um entendimento de base tibetana segundo o qual tudo o que existe está conectado, que fazemos parte de um corpo orgânico chamado humanidade, e que a raiz da infelicidade está na separação do que nos une ao todo. Quando pensamos no coletivo, fazemos escolhas; ao optarmos pelo egoísmo, saímos do fluxo natural da vida e seguimos o caminho da infelicidade.
O conceito é retratado no livro A voz do silêncio de Helena Blavatsky. Segundo a filosofia tibetana, o discípulo, para chegar à elevação, deve passar por três salas. A primeira é a da ignorânica (aquela em que todos nascemos e a maioria irá morrer), a segunda, a da instrução (onde a vaidade prende os intelectuais), e a terceira, a da sabedoria (onde se chega à liberdade).
“Se através da sala da sabedoria queres alcançar o vale da bem-aventurança, Discípulo, fecha teus sentidos à tremenda e grande heresia da separatividade que te aparta dos demais”
Segundo esse entendimento, incorre em erro quem caminha no sentido da separatividade, da segregação, do individualismo. Tudo se conecta, há uma conexão primordial que conecta todas as coisas, de forma que os esforços para desatar esse nó natural são inúteis e pior, levam à infelicidade.
Mas se o problema é alheio, ainda assim somos responsáveis?
Sim, a separatividade não existe. Tudo está conectado, e o fato de dar as costas para o problema, não o elimina, apenas faz com que ele lhe pegue pela retaguarda.
As conexões dentro de uma sociedade
Uma sociedade é um todo orgânico, a divisão em classes é uma ilusão e apenas serve para fins didáticos. O que ocorre em um setor dela, afeta o outro. Vejamos abaixo como.
A pobreza que aflige parte mais pobre da sociedade influencia negativamente as classes mais ricas, por mais que os muros, as cercas elétricas e a segurança armada tentem dizer o contrário.
A pobreza de parte da população requer atuação do Estado, para prover o mínimo existencial, o que é feito com dinheiro dos impostos, pagos pelas outras classes com melhores condições. Desta forma, a parcela da população mais pobre exerce influência direta na vida da parcela mais rica.
Da mesma forma, a riqueza de parte da população influencia positivamente a mesma sociedade, afinal, o crescimento de empresas cria empregos, geram renda para os outros setores sociais. Você provavelmente conhece alguma localidade que floresceu com a chegada de empresas ou fábricas. O mais famoso é o vale do silício nos Estados Unidos, morada de várias empresas de alta tecnologia.
Conexão entre objetos distantes
A conexão entre tudo fica mais evidente quando se analisam objetos distintos e distantes, pois, uma vez comprovada a ideia, torna-se desnecessária explicar para objetos mais próximos.Vamos aos exemplos.
Guerra entre Rússia e Ucrânia
A Rússia e Ucrânia, países que ficam do outro lado do mundo, entraram em guerra em 24 de fevereiro de 2022. A princípio, havia mais curiosidade do que preocupação, afinal, o que uma guerra do outro lado do mundo tem que ver com o Brasil? A inflação apresentada deu a resposta.
Essa guerra, do outro lado do mundo, acarretou, aqui no Brasil, um aumento de preços na gasolina de 18,8%, 16,1% no preço do gás de cozinha e 24,9% no valor do diesel. Tendo em vista que importamos esses 3 produtos da Rússia.
Como nossa economia utiliza esses produtos para transportar e produzir mercadorias e serviços, o preço é repassado para praticamente todas as outras áreas, o que encarece todo o resto. As frutas ficaram mais caras, pois são transportadas de caminhão, que usam diesel. Cozinhar ficou mais caro, pela utilização de gás de cozinha. Como houve um aumento generalizado dos preços no país, ocorreu a inflação (perda do valor do dinheiro).
Como se percebe, um evento que ocorreu do outro lado do mundo aumentou a inflação aqui. Eventos que ocorrem em outros estados do Brasil seguem a mesma lógica, veja o caso das inundações no Rio Grande do Sul.
Chuvas no Rio Grande do Sul
As chuvas que atormentaram o Estado do Rio Grande do Sul no ano de 2024 impactaram a vida de todo o resto do país. Não só pelas manchetes da triste situação que passam milhares de família desabrigadas, mas no bolso. O Estado concentra o segundo maior número de empresas do setor plástico, e a maioria delas se encontram fechadas por conta das chuvas.
Como plástico é algo muito utilizado em todo o país, tendo ganhado mais espaço com o comércio virtual, sua produção em menor quantidade fará com que a procura seja maior do que a produção, o que levará ao aumento de preço. Outro problema ocasionado foi o de abastecimento de arroz.
O Estado do Rio Grande do Sul é um dos maiores produtores de arroz do país, de forma que a situação calamitosa da região gerou um problema no abastecimento do país, e já atinge regiões mais distantes, como o município de Caruarú, no interior do Pernambuco.
Ajudar os outros, segundo o estoicismo, nos faz pessoas melhores
O estoicismo é uma escola filosófica grega marcada pelo cosmopolitismo, ideia de que todos os seres humanos formam uma única nação e que não deviam existir barreiras geográficas entre eles.
De acordo com essa corrente da filosofia, todas as pessoas são manifestações de um espírito universal único e deveriam, com base na fraternidade, ajudarem-se uns aos outros da melhor maneira.
O filósofo estóico Epicteto, em seu livro A arte de viver, nos dá conselhos práticos para uma vida de maior plenitude e alegria. Devemos ser cidadãos do mundo, no sentido de não utilizarmos barreiras geográficas como desculpa para não agir. Arremata ainda ao dizer que, quando zelamos pelo bem-estar de outras pessoas, tiramos o melhor de nós.
Cada ser humano é, primeiro, um cidadão da sua comunidade; mas também é membro da grande cidade dos homens e deuses. Epicteto
Esse espírito cosmopolita do filósofo grego Epicteto, também foi defendido por Diógenes de Sinope, que pregava já naquela época:
Eu não sou nem ateniense nem coríntio, mas um cidadão do mundo.
Lembre-se de não transformar sua contribuição em moeda de troca, não deve ser feita com o intuito de reconhecimento alheio, mas com o desejo genuíno de ajudar, de servir, de contribuir.
Hora da Ação
Uma vez entendido a conexão que existe entre tudo, e que a separação é uma heresia, o que podemos fazer para respeitar essa lei natural e com isso termos uma vida de maior harmonia e felicidade? Aqui vão algumas boas práticas.
Separe o lixo, recicle ideias
Imagine uma atividade que, por menor que seja, gere empregos nos patamares sociais mais baixos da sociedade e tire várias pessoas da pobreza extrema; que proteja ecossistemas e a vida selvagem; e ainda reduza a emissão de gás carbônico na atmosfera. Essa atividade existe e se chama separação do lixo.
Essa atividade gera inúmeros efeitos positivos em uma sociedade e só o fato de você ter consciência e praticar, já melhora sua felicidade. Como visto em outro artigo, a felicidade reside justamente no senso de contribuição, na utlidade que você consegue enxergar e sentir em sua atuação.
Além da sensação de contribuição, separar o lixo também eleva sua satisfação por melhorar a condição de vida de outros setores da sociedade que, como visto na heresia da separatividade, influem diretamente em sua vida.
Ajude quem precisa
Ajudar quem precisa é um ato de cidadania, que reduz abismos sociais e ainda dá dignidade às pessoas. Ajudar quem precisa não é apenas bom, é natural, é próprio do ser humano. A felicidade em ajudar o próximo é uma riqueza que se multiplica quando dividida.
O estilo de vida egoísta só nos afasta da verdadeira felicidade, que é, segundo Aristóteles, agir conforme a razão. Ajudar quem precisa é seguir a razão e nos preenche de uma forma que nenhum bem material faz. A satisfação com um carro novo dura poucos dias, já a alegria de ter ajudado alguém, paga dividendos por longos períodos com a mera lembrança do ocorrido.
Não confunda ajuda com moeda de troca, a ajuda virtuosa é a que vem do coração, que não tem compromisso com divulgação, que se encerra longe de holofotes. O retorno de algo feito com o genuíno espírito de ajuda paga melhores dividendos.
Seja um bom ouvinte
Uma boa conversa, muito mais do que dinheiro, pode ser tudo que alguém precisa. Uma conversa em que você ouve a outra pessoa, escuta realmente o que ela tem a falar sem preconceitos ou críticas, é algo raro; quem tem um ouvinte assim na vida tem muito, já quem é um ouvinte assim, colhe toda a sabedoria que brada nas ruas.
“Não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz”. Madre Teresa de Calcutá.
Perceba e controle o impulso egoísta
O egoísmo vai se manifestar, não há como frear este impulso tão presente no ser humano. O campo de batalha é justamente na sua manifestação concreta, no momento em que pensamentos viram ação.
Quando deixamos de ceder a vez no trânsito para outro motorista, estamos optando pelo ganho irrelevante de tempo ao invés da satisfação proveniente da gentileza de ceder.
Ao “marcarmos lugar” para uma pessoa que ainda não chegou ao evento para sentar de seu lado, nosso egoísmo premia o atrasado que sentará em frente em detrimento daquele que chegou antes mas não conseguiu ocupar a vaga marcada.